quinta-feira, 19 de novembro de 2015

História do Cinema - O Primeiro Cinema

O PRIMEIRO CINEMA

“Diante dos primeiros filmes temos, hoje, várias impressões contraditórias. Percebemos neles uma grande energia, meio anárquica, meio irreverente. Mas estes filmes nos dão, ao mesmo tempo, uma sensação estranha de morte. Todas as coisas que vemos ali já desapareceram, mudaram, morreram, incrustadas na finitude de uma duração que se extinguiu. O curioso (...) é que esta sensação desaparece à medida que vemos filmes mais recentes.”
(COSTA, Flávia Cesarino, in: “O primeiro cinema”, 2005).

Essa citação do “O Primeiro Cinema” de Flávia C. Costa, nos diz que o Primeiro Cinema parece algo que já morreu, pois não é familiar com o cinema atual. Mesmo assistindo um filme antigo (como “O Nascimento de uma nação”) não passa tanto a sensação de algo inexistente como esses curtas-metragens do primeiro cinema (mesmo sabendo que todos os atores e idealizadores desse filme já faleceram). Isso ocorre porque o Cinema seguinte ao período do Primeiro Cinema, conta com a utilização de diversas técnicas (que denominamos como a Linguagem Cinematográfica) utilizada até hoje pelos cineastas, estúdios e todos os profissionais de cinema.

Atualmente, pode-se modificar essa linguagem, ou utilizá-la de maneira diferente, porém é diferente do primeiro cinema, pois nesse período não existia ainda a Linguagem Cinematográfica (ou melhor dizendo, a sistematização do modo de criação de um filme).

Contexto Histórico
“(O Cinema é) uma máquina de embrutecimento e de dissolução, um passatempo de iletrados, de criaturas miseráveis e iludidas por sua ocupação.” (George Duhamel)
“O Cinema não tem futuro comercial.” (Auguste Lumiere)
O Primeiro Cinema surge na época da Belle Epóque (1870-1914) que foi a época da euforia, do progresso e do otimismo.

É a época do Imperialismo e essa época foi o “auge da expansão Europeia”, pois a maior parte do mundo havia sido colonizado por países europeus. É época de grandes descobertas e invenções (fotografia, penicilina, etc...) e o mundo vive um período pós-revolução industrial.

Por tudo isso, o ser humano estava atingindo o seu auge como potência. Tudo estava rumando para um progresso cada vez maior. Portanto, o ser humano se acha imbatível e considera-se o ser supremo da face da terra.

Dentro desse período, o cinema é mais interessante como mais uma invenção, a da imagem em movimento, portanto, um avanço tecnológico (o cinema ainda não é considerado arte).
Mas acontece a Primeira Guerra Mundial e a sociedade começa questionar esse progresso, pois aquele homem que era potente e fazia invenções, agora fazia guerra e matava seus próximos.

Com esse impacto, o homem começa a se refugiar para o campo dos “sonhos e imaginações”, então inicia as Vanguardas da década de 1920. Esse é o momento que o Cinema começa a ser visto como uma manifestação artística.

Mas enquanto não era reconhecido como arte, o cinema era considerada invenção, ainda não era uma Indústria. Então, os inventores do cinema tentavam atrair a elite social para conhecer essa invenção.
Conforme o tempo passava e essa invenção deixava de ser novidade, a burguesia começou deixar o cinema de lado, pois para eles era algo vazio, somente útil para as camadas populares.

Portanto o Cinema não tinha organização social. Mas na realidade, naquela época, o Cinema era algo a ser descoberto.

As Invenções
A partir das invenções, já podíamos observar alguns pólos Cinematográficos, o EUA e a França que eram os principais (a França dominou 75% das produções da época) também a Itália, Suécia e a Alemanha (que entraria por último).

1-Quinetoscópio (1894, EUA)
Inventor: William Dickson
Empresário: Thomas Edison
-Capta imagem, mas não as projeta.
-É o primeiro protótipo de um aparelho de “imagem em movimento”.
-Era um aparelho grande e não era móvel.
-Utilizava energia elétrica.

2-Cinematógrafo (1895, França)
Inventor: Irmãos Lumiére
-Capta e projeta imagens.
-Era mais barato.
-Por ser menor, era móvel.
-Funcionava a manivela.

3-Mutoscópio (1895, EUA)
Inventor: William Dickson
-Era parecido com o Quinetoscópio.
-É do mesmo inventor do Quinetoscópio (W. Dickson) que saiu das empresas do Thomas Edison, fundou sua própria companhia e começou a fabricar o Mutoscópio.

4-Vitascópio (1896, EUA)
Inventores: Thomas Armant e Francis Jenkins
Empresa: Thomas Edison Company
-Seria o “cinematógrafo” do Thomas Edison.

Observação: Eles tinham mais interesse pela patente do invento do que a patente dos filmes produzidos. Tanto que os primeiros cartazes do Cinema divulgavam o invento e queriam atrair o público para vê-lo, o filme acabava sendo a última coisa que realmente interessava.

Primeiras produções

A primeira produção cinematográfica da história é o curta dos irmãos Lumiére “L'Arrivée d'un Train à La Ciotat”, exibido pela primeira vez em 28 de Dezembro de 1895.

Outro cineasta, o ilusionista George Méliès, começou a utilizar a invenção para aprimorar suas ilusões, sem saber, ele estava aprimorando a linguagem cinematográfica. Ele tornou-se o pai da ficção com o curta-metragem “Viagem à Lua”, a primeira ficção científica da história do cinema.




O Primeiro Cinema é dividido em dois períodos:
O Cinema de Atrações (1894 – 1906/07)
O Cinema de Transição (1909 – 1914/15)

O Cinema de Atrações (1894 – 1906/07)
Passa a ideia de espetáculo visual, pois ainda não há narratividade.
Alguns diretores de destaque são:
*Irmãos Lumiére (França).
*George Méliès (França).
*E. Porter (EUA).

Características:
Passa um pouco a sensação de anarquia/ desordem.
Planos únicos.
Enquadramento frontal (como no teatro).
Personagens/pessoas que povoam o quadro de forma desorganizada.
Não há desenvolvimento da montagem de forma sistematizada.
Não tem organização industrial (Cinema artesanal).
Era um cinema fragmentado.

Os locais de exibição:
-Cafés.
-Vaudevilles (Teatros de variedades).
*Caráter popular, pois ficavam em bairros operários.
*Diferentes atos.
*Espetáculos autônomos.
Mas havia o preconceito da elite, pois os Vaudevilles atraía a camada pobre e era local de prostituição, jogatina e consumo de álcool.

Em 1905 surge o 1º espaço próprio do cinema, eram os chamados Nickelodeons, pois custava apenas 1 níquel a entrada. Os Nickelodeons ficavam instalados em bairros operários. O Cinema começa a se consolidar, fica independente, pois sai do teatro de variedades e conquista seu espaço próprio.

Tendo um espaço próprio, o cinema começa atrair mais pessoas.
Esse aumento de público faz com que aumente a demanda e com isso, mais filmes começam a ser produzidos.

Então, começa uma busca para produções mais distintas, pois começa a surgir filmes muito parecidos, desinteressando o público recém-conquistado.

Nesse momento, o Cinema começa a precisar ser organizado de maneira industrial, organizando a mão-de-obra e a produção. Também precisa sistematizar os aspectos de linguagem.




Filmes da época:
La Place dês Cordeliers à Lyon” e “Saída da Fábrica

 


Mostra o cotidiano, a modernidade da época (industrialização), mas não tem a intenção de ser um registro histórico. É experimental, pois eles fizeram esses curtas-metragens para mostrar a capacidade do invento (Cinematógrafo) o de registrar imagens em movimento.
Utilização de Planos únicos. Inexistência de Narrativa.
Passa a sensação de anarquia e caos por não ter um eixo condutor (você não tem para onde olhar, não há um foco). A parte mais curiosa é no 1º curta, a cena que a cidade é filmada, mostrando que diferente da fotografia, você pode mover a câmera também.


O Homem com uma Orquestra

Exibe truques de câmera (trucagens) que seria muito utilizado no cinema até hoje.
O uso de sobreposição de imagens, para criar ilusões, que no futuro seriam muito utilizadas para filmar aquilo que não existe ou é impossível.
Uso de uma orquestra (som externo) para ajudar na exibição.
Impacto tecnológico, pois completa o experimento dos dois curtas dos irmãos Lumieré por causa das trucagens.
Mas ainda é muito “cru”, parece uma apresentação de teatro.

O Grande Roubo do Trem
 


Começa a utilização de planos e sequências, mas ainda é “embrionário” seria o precursor.
É considerado o primeiro Western por estabelecer alguns elementos utilizados nesse gênero.
A edição ainda é bruta, não faz com que a história flua, pois percebemos a edição.
É menos experimental do que os anteriores, pois não tenta mostrar a capacidade do invento, mas sim o que se pode fazer com ele agora que ele existe que é contar histórias com as imagens em movimento.
 Início de uma narrativa, mas ainda não existe um condutor para a história, como um protagonista. Sendo assim, ainda não há a interação com o espectador, pois não cria ligações ou identificações com quem assiste, sendo assim, não passa sensações.
A cena final do pistoleiro atirando para a tela, é uma tentativa de se comunicar com quem assiste.

O Cinema de Transição (1907 – 1914/15)

The policement’s litlle run – exemplo
de curta do cinema de transição
Surge uma pequena narratividade na história.
Começa também haver montagens melhoradas nos curtas, havendo mais fluidez nos filmes.

Diferenças entre o Cinema de Atrações e o de Transição:
O Cinema de Atrações: As pessoas iam ao cinema por curiosidade em ver o novo invento, o Cinematógrafo.
É um outro cinema, que não tem ligações com o cinema atual.
É muito experimental, os curtas eram feitos para mostrar a capacidade do invento.
Não existia a linguagem cinematográfica.
Estabeleceu algumas das primeiras técnicas (como cenas, jogo de câmera, sobreposição, sequências, edição, montagem, som externo através de uma orquestra), mas ainda não as utiliza em conjunto.

O Cinema de Transição: Inicia uma narratividade nas histórias.
Utiliza as técnicas citadas anteriormente em conjunto para contar a história, surgindo assim a Linguagem Cinematográfica.



Filmes de Referência:
Irmãos Lumieré

  • L'Arrivée d'un Train à La Ciotat (1895)
  • La Place dês Cordeliers à Lyon (1895)
  • Saída da Fábrica (1895)

George Méliès

  • O Homem com uma Orquestra (1900)
  • Viagem à Lua (1902)

Edwin Porter

  • O Grande Roubo do Trem (1903)

Produtora Pathé

  • The policement’s litlle run (Ferdinand Zecca - 1907)
  • Troubles of a grasswindowers (Max Linder - 1908)
Autoria: José Guilherme Leme